o grandíssimo problema do substack
olha só, vomitei uma flor, quotei kafka, agora finjo que sou interessante
tenho receio de opinar e parecer que sou a mais amargurada do planeta terra. não suporto não dizer o quanto discordo de vocês. agora vem aqui um tópico novo do tribunal das pequenas causas (ou causas médias) do Substack: essa mania insuportável de querer hierarquizar a leitura alheia me tira a espuma raivosa da boca.
como se fosse um clube seleto: se você não leu Dostoiévski, se não leu Kafka, se não mergulhou no sofrimento de Sylvia Plath ou se não sabe citar Baudelaire de cor — então você não lê “de verdade”.
vai se foder.
vocês acham mesmo que têm mais profundidade por ler filosofia com vocabulário rebuscado, enquanto viram a cara pra quem lê romance adolescente, fantasia, new adult, fanfic? vocês não têm profundidade nenhuma. têm medo de parecer burros. é isso. então vestem essa carcaça intelectual como se fosse casaco de grife — mas tá todo mundo vendo o raso que vocês são por dentro.
olha só! a galera não usa mais TikTok, agora é Subsssstack! ela é tão diferente… escreve textão no Substack como se fosse um altar de iluminação. agora sim, hein? ufa… tá livre do brainrot, mocinha.
adivinhem?
Substack também é rede social, caralho. você continua querendo aplauso, continua querendo like — só mudou a embalagem.
e seu cérebro? continua lá, intacto dentro dessa mente podre, empestada de arrogância e pose.
“hoje em dia ninguém mais lê de verdade…” cala a boca, meu amor. você não lê de verdade também, você performa leitura. você recorta parágrafo bonito e posta com letra serifada pra parecer culto. você lê com o único propósito de se diferenciar — não de aprender nada, não de sentir nada. é tudo marketing pessoal com cheiro de naftalina. para de ser mentirosa, que a vida não é essa beleza toda, não. admita, bora, que todo mundo já reparou.
vocês são o esvaziamento de tudo que tocam. transformam até o que é íntimo em propaganda. gente que odeia o que é popular porque quer se sentir superior. que enche a boca pra criticar o TikTok, mas consome o mesmo tipo de vaidade estética — só que travestida de “conteúdo reflexivo”.
no fundo, não são profundos. são só feios por dentro mesmo… mas olha pelo lado bom… pelo menos são lindos poetas de Pinterest. cagam flores e vomitam palavras floridinhas também, e quotam Clarice Lispector ao mesmo tempo que dizem “ora, ora, sem ódio e negatividade nesse app, hein, senão vira Twitter…”
vocês querem soar bonitos o tempo todo. são gente que escreve como se estivesse eternamente segurando uma xícara de chá no pôr do sol. o feed inteiro parecendo uma sessão de terapia com filtro vintage. todo post cheio de palavra bonita, metáfora forçada, suspiro delicado. parece que ninguém sangra mais. ninguém se desespera, ninguém joga coisa na parede, ninguém fica de quatro no banheiro chorando por alguém que nem lembra que você existe.
onde é que tá quem escreve das ruínas? quem escreve quando tá fedendo por dentro? quem assume que tem coisa podre escorrendo das próprias ideias?
um bando de clean girls postando Clarice Lispector como se fosse legenda de selfie. citando Kafka, Dostoiévski, como se eles tivessem saído de um editorial da Casa Vogue.
me poupem. Kafka era um doente paranóico com daddy issues, Clarice era uma angústia ambulante, Dostoiévski era um torturado crônico. vocês acham mesmo que a arte que tanto vocês postam nasceu da luz? nasceu do respiro fresquinho?
nasceu do feio.
e hoje vocês usam isso como superioridade intelectual, ao mesmo tempo que reprimem quem vem do mesmo sentimento. hipócritas nojentos e asquerosos.
aí vem vocês querendo que o Substack não vire um “novo Twitter” porque não querem ler sobre ódio, sobre rancor. querem manter a estética límpida de uma alma que não existe. querem polir até o sentimento. vocês têm nojo do que é humano. querem postar sem parecer afetados, mas não querem sentir de verdade. querem romantizar o abismo — desde que ele combine com a paleta bege e pastel.
como se a vida fosse mesmo uma tarde de outono com cheiro de canela e incenso de lavanda. como se toda dor tivesse que caber num verso bonito. vão tomar no cu. ninguém aguenta mais esse conteúdo lavado, esse banho morno de palavras tentando fingir profundidade. parece que escrever virou um concurso de quem sofre com mais estética. todo mundo posando de sensível, mas ninguém dizendo porra nenhuma.
eu espero que meu clamor encontre quem escreve com o estômago. quem escreve com raiva, com ranço, com vergonha do que sente também. quem tem coragem de meter o dedo na própria ferida e virar o avesso sem se preocupar se a palavra é bonita.
meu deus, cala a boca. como se alguém tivesse obrigação de ser sempre calmo, sensato, limpo, organizado. como se estar online não significasse também estar confuso, caótico, perdido. como se não fosse humano o suficiente escrever num dia com ódio e no outro com amor.
bando de detestáveis.
querem filtrar até a alma. vocês têm nojo do feio — mas é do feio que nasce o que presta. vocês são ocos. são embalagem.
quem escreve bonito o tempo todo não tá escrevendo. tá posando. quem critica o outro com a única finalidade de parecer intelectual esconde a própria burrice usando o coitado do Dostoiévski de máscara.
vai se foder.
você pôs em palavras um sentimento que eu acho que muitos aqui sentem mas têm medo de dizer. é tão chato ler um monte de referências a sylvia plath como se ela fosse a única escritora mulher que já existiu, posts que falam como se a dor fosse a coisa mais “instagramável” do mundo, mas a dor é nojenta, grotesca, e acho que quanto mais cedo admitirmos que a arte vem do feio, melhores escritores, pintores, fotógrafos ou qualquer coisa, nós seremos. texto raivoso e intenso mas ainda sim na medida certa.
sim eu n ligo MESMO pro quão inteligente vc é agora me faz sentir alguma coisa